Além da vista

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Caroline Manchini/Especial para o Diário

Livre de padrões estéticos, marcada por inovação e transformação, a arte contemporânea, que surgiu por volta da metade do século passado, veio com a intenção de provocar, gerar questionamentos, levantar debates e, principalmente, para instigar o público a elaborar os próprios pensamentos.

Com foco nessas características a curadora e artista visual Cristina Suzuki reuniu quatro artistas da região, que fazem parte do Projeto ABC de Artistas, a exposição Entre Bordas: Uma Imagem Precisa de Dois, disponível na galeria do Sesc Santo André (Rua Tamarutaca, 302) até 27 de janeiro. A visitação é gratuita e poderá ser feita de terça a sexta, das 10h30 às 21h30, e aos fins de semana e feriados, das 10h30 às 21h30.

A sensação de estranhamento se dá antes mesmo de chegar ao espaço expositivo. Ainda na parte externa do prédio avista-se um cordão vermelho que se estende para o interior da galeria. Lá dentro é possível observar onde tudo começa. A misteriosa linha, que tem cerca de 1.000 metros de comprimento, está amarrada a um prego na parede e, para descobrir onde termina, é preciso percorrer o caminho – que contorna o Sesc – feito por Angela Camata, autora da obra Para Que Eu Não Me Perca. O visitante irá percorrer o mesmo trajeto da artista, que teve a montagem da obra registrada em vídeo. “Agora temos apenas a linha aqui (galeria), que também pode gerar questionamentos”, explica Cristina. Segundo ela, o visitante ficará curioso ao ver a obra e tende a ir atrás de seu percurso para ver no que vai dar.

A artista expõe ainda outras obras: Simples De, na qual o público é convidado a carimbar guardanapos com as palavras ser, ter, julgar e escolher e, posteriormente, depositá-los em suas respectivas gavetas, onde há uma placa indicativa com cada palavra – esta interação permite a participação de deficientes visuais, já que nos carimbos e placas os textos também estão em Braile. E, por fim, Angela encerra com a série Intenção da Carne, em que usa a argila, a amassa e, o formato que fica, ela pinta com resina vitral. “Os trabalho dela (Angela) têm ternura e sempre deixam as pessoas em estado de suspense”, observa a curadora.

Estão expostas também as obras do são-caetanense Bruno Novaes, que levantam debate sobre as questões de gênero. A primeira produção, intitulada Cartilha, apresenta objetos escolares pintados com aquarela. “O título é exatamente para fazer menção à padronização que nos é imposta, na qual temos de seguir uma cartilha. É também crítica ao que os governos mais conservadores e ditatoriais chamam, erroneamente, de kit gay”, esclarece o artista, autor de mais dois trabalhos da mostra.

O público poderá observar ainda a criação de Mariana Vilela. A fotografia A Onda, da série Mapa dos Sonhos, é resultado de mapeamento feito em espaços abandonados localizados no Grande ABC, Interior do Estado e Bahia, em que a artista se insere nas imagens. “É um trabalho de performance, já que meu corpo está presente na fotografia. Neste caso ele ocupa espaço de alegoria”, comenta a artista. A intervenção Confio, também de sua autoria, é outra opção na exposição.

Para finalizar o passeio cultural os visitantes podem observar a série Desenho Premiado, do são-bernardense Gustavo Jeronimo, que exibe em molduras apostas de bilhetes da Mega-Sena. As numerações escolhidas revelam formas geométricas.  

Atividades para interagir com a arte

Para complementar a mostra Entre Bordas, bem como gerar mais interação do público com as obras e os artistas, o Sesc realiza duas oficinas ministradas pelos próprios expositores. No domingo, às 14h, terá o workshop Folha de Atividade – Intervenção Pública para uma Autoidentidade Corporal, com Bruno Novaes. 

A partir do trabalho Apostila de Ciências: Ensino Fundamental, que está exposto na unidade, ele ilustra a transformação do corpo humano e questiona os modelos padronizados existentes nas apostilas escolares. “Desenhei a menina virando mulher, o menino virando homem e, depois, os modelos transexuais, que não estão nos materiais didáticos”, conta o artista. 

Após levantar esses questionamentos, Bruno, munido com diversos livros, convidará o público para criar o seu próprio modelo de corpo, levando em consideração questões particulares de cada um e as transformações que ele sofre ao longo dos anos. As inscrições para esta oficina gratuita devem ser feitas no local 30 minutos antes do início. Não é recomendada para menores de 7 anos.

No dia 20, às 11h, é a vez de Mariana Vilela interagir com os visitantes. No workshop Mesa Circulante, que será realizado na área de circulação de pessoas, ela ensinará técnicas de urdidura – conjunto de fios dispostos no tear –, enquanto propõe conversa sobre política, futebol e religião. A atividade é recomendada apenas para maiores de 12 anos e não é necessário realizar inscrição antecipadamente.




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