Telas repletas de sentimentos

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Miriam Gimenes

Sua arte não tem influência de outros pintores. É nua, crua, puro sentimento. Trata do que brota do sangue, da cabeça e do coração do artista plástico de São Bernardo Betto Damasceno. Tudo isso é colocado, há algum tempo, em telas que viram autorretratos. E o resultado pode ser apreciado na exposição Ele Por Ele Mesmo, que toma conta a partir de amanhã, às 15h, da Casa do Olhar Luiz Sacilotto, em Santo André.

Com curadoria assinada por Enock Sacramento, a mostra é ilustrada por 23 obras. A mais antiga, segundo Damasceno, é de 2015. “É praticamente uma escultura, tem um relevo muito alto, de tanta tinta”, brinca ele. “Nessa época eu não sabia pintar, não sabia profundidade nem perspectiva”, afirma. Uma delas foi terminada na quarta-feira e já está na parede do espaço. “Nem tive tempo de envernizar”, afirma.

Dá para notar a diferença dos traços da mais velha para a que acaba de integrar seu catálogo, assim como o que há em comum entre elas: a pureza com que pinta. Damasceno não tem a sugestão de dizer o que uma obra precisa passar para o público. “Em todo trabalho artístico que faço há o que sinto neles. É tudo sem planejamento. As peças são simplesmente executadas”, diz, acrescentando que cada uma é algo singular.

De todas as escolhidas para a mostra – eram 24 peças no início – o artista deixou uma de fora, por falta de espaço. Segundo ele, a peça retrata um momento em que estava decidido a abandonar a pintura. “Mas desisti de desistir”, revela.

Ele conta que entre as obras há algumas que estavam guardadas e outras que participaram de salões de arte. “No fundo não me importa se a pintura esteve em um salão ou não. Nada disso importa para mim. O que vale é que cada quadro tem sua razão de existir. Nenhum foi feito à toa”, frisa ele. Todas estão à venda.

Para Damasceno não há limite na hora de criar. Há peça feita com tudo o que se possa imaginar. Ele abusa em tinta acrílica, mas usa também carvão, spray, técnica de colagem, nanquim, betume. “Costumo brincar que meus quadros são tela com o que eu tiver por perto. Uma vez procurei café e não tinha. Busquei areia e não achei. Mas encontrei sal e experimentei com ele. Percebi que três dias depois estava saindo água da parte onde havia usado o tempero no quadro”, revela. “Farei outros experimentos em breve.”

Para ele, o público deve sentir a obra como bem entender. “Cada quadro significa um momento da minha vida. Não adianta eu colocar o nome de um quadro de casinha azul e querer que a pessoa fique tentando entender a razão de eu ter colocado isso ou ficar tentando encontrar a casa azul na peça. Quero que ela sinta o que quiser”, diz.

Algo que é comum nas peças da mostra é a figura da caveira. Algumas vezes maior, outras, menor. E nada tem a ver com morte. Segundo o artista, ela está presente por representar algo em que ele acredita muito, de as pessoas serem todas iguais. “Somos todos seres humanos. O resto é complicação criada por nós mesmos”, diz.

A mostra segue até dia 9 de fevereiro, com entrada gratuita. Mas antes disso, dia 26, ele abre outra exposição, Selecionados, em São Bernardo, na biblioteca da Pinacoteca da cidade (Rua Kara, 105). “São só quadros que participaram de salões de arte”, encerra.

Ele Por Ele Mesmo – Exposição. Na Casa do Olhar Luiz Sacilotto – Rua Campos Sales, 414, em Santo André. De amanhã ao dia 9 de fevereiro. De terça a sexta, das 10h às 17h; aos sábados, das 10h às 15h. Entrada gratuita.  




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