A vida de Chico Buarque

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Miriam Gimenes

Se a vida de Chico Buarque fosse contada em notas musicais, faltaria espaço nas partituras. Dono de uma obra singular na história da música brasileira, o cantor, compositor, dramaturgo e escritor é uma enciclopédia de arte personificada, daquela que tem inúmeras edições. Isso posto, dá para ter a ideia que o designer e jornalista Augusto Lins Soares teve para organizar a fotobiografia Revela-te, Chico (Bem-Te-Vi Produções Literárias, 240 páginas, R$ 145), que acaba de ser lançada.

A publicação é uma arqueologia visual da vida e obra do artista, e traz 210 imagens selecionadas por Augusto – de 50 fotógrafos – entre mais de 20 mil garimpadas em acervos de fotógrafos, revistas, jornais, sites, blogs e órgãos públicos e privados, em uma vasta pesquisa iconográfica. São fotos inéditas e imagens raras, além do resgate de momentos fundamentais da vida e da obra de Chico Buarque, que liberou o uso de sua imagem para a realização do livro, mas não teve qualquer participação no processo de composição do livro.

Augusto ficou, portanto, à vontade para conceber a narrativa visual desde a infância do menino carioca até o seu último trabalho lançado, o disco Caravanas, de 2018. E, durante toda sua pesquisa, que começou em 2016, não teve grandes surpresas em relação ao que já sabia sobre o fotobiografado, apenas reafirmou o que já admirava. “Ele é multifacetado, muito plural, consegue ser famoso e anônimo ao mesmo tempo. É isso que tanto encanta as pessoas, ser tão conhecido e ser tão na dele. É um artista de fato. Chico se vale pela obra dele. Nunca usou a mídia ou os meios de comunicação para tentar mostrar a vida pessoal”, analisa.

E qual a foto que mais te encantou? “Todas (risos). Imagine que o que coloquei é o suprassumo, é 1% de tudo que vi.” A sua preocupação ao editar, acrescenta, teve três vertentes: a memória afetiva, qualidades estética e plástica e valor histórico. Por isso, é tão fácil se apaixonar pelo livro, que traz, além de imagens lindas de Chico sozinho – de bermuda, de smoking, jogando futebol etc –, tem ele desfilando no Carnaval e na Passeata dos 100 mil. Tem Chico com o pai, Sérgio Buarque de Holanda, e com a mãe, Amélia, fazendo 100 anos, com a ex-mulher, as filhas e os netos, além de seus parceiros musicais, como Vinicius de Moraes, Caetano Velloso e Gilberto Gil.

O acervo fotográfico é acompanhado por histórias de bastidores de cada registro e cada situação. A convite do curador, o escritor e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos criou as legendas biográficas, que contextualizam as imagens e trazem informações saborosas sobre os momentos impressos no livro.<EM>

Também foram selecionados artistas que realizaram obras específicas sobre o cantor, entre eles uma pintura de Di Cavalcanti, de 1972, e do artista Alex Flemming, que mora na Alemanha, mas já expôs algumas vezes no Grande ABC. “Eu sempre fiz obras sobre superfícies não tradicionais, desde pinturas sobre bichos empalhados (na longínqua Bienal de 1991), passando por poltronas, minhas próprias roupas, vidro e computadores. Então, para homenagear o Chico eu comprei alguns discos em vinil da obra dele, e fiz a minha obra em cima”, explica Flemming.

Segundo o artista, Chico Buarque é o poeta mais brilhante da música popular brasileira, sem ter segundo lugar. “Ele também é prolífico, o que é uma bênção para nós, pequenos mortais que somos. Tive o privilégio de nascer praticamente na mesma geração que ele, e, portanto, acompanhar todo o seu percurso passo a passo, desde os festivais da Record com A Banda”, finaliza. 




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