Ruth Rocha lança antologia de sua obra

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Miriam Gimenes <br> Do Diário do Grande ABC

Peço licença para tecer um relato pessoal. Toda sexta-feira meu filho, que tem 6 anos e está no 1º ano do Ensino Fundamental, escolhe um livro na biblioteca de sua escola para lermos juntos em casa. Os títulos mudam, é claro, mas a autora eleita é sempre a mesma: Ruth Rocha. Falamos do micro para expor o macro. Há 50 anos, a autora, que se apaixonou pela leitura ainda pequena, por influência de seu avô, encanta crianças do País todo. “É quase um milagre (completar cinco décadas de carreira) porque eu comecei a escrever tinha 38, tarde, digamos. É uma coisa muito importante e muito emocionante. Fico satisfeita de ter feito uma obra tão grande”, analisa a autora. E, de modo a comemorar toda essa história, acaba de ser lançada a Antologia Ruth Rocha (Editora Salamandra, 216 páginas, R$ 56, em média).

Com a seleção e organização de Marisa Lajolo e Lenice Bueno, o livro contém diversas histórias já conhecidas da autora, entre elas Marcelo, Marmelo, Martelo; O Reizinho Mandão; As Coisas que a Gente Fala e Romeu e Julieta. “Este livro reúne algumas das histórias de Ruth Rocha. Ele pretende ser um portal para você entrar no mundo da obra desta grande escritora, que nasceu e vive em São Paulo, mas é conhecida no mundo inteiro pela tradução de seus livros para muitas outras línguas”, ressalta Marisa Lajolo no prefácio do volume. E completa: “A identificação de Ruth com o seu público é muito grande. Tão grande que, em 1988, a Organização das Nações Unidas confiou a ela a versão infantil da Declaração Universal dos Direitos Humanos (iguais e livres) e, em 1990, uma proposta de um livro sobre ecologia para crianças, publicada com o belo título de Azul é Lindo: Planeta Terra, Nossa Casa.”

Ruth foi orientadora educacional e editora, começou a escrever artigos sobre educação para a revista Cláudia, em 1967. Em 1969, passou a escrever histórias infantis para a revista Recreio. Em 1976, teve seu primeiro livro editado. De lá para cá publicou mais de 100 deles no Brasil e 20 no Exterior, em 19 diferentes idiomas, e já vendeu milhões de títulos, que renderam centenas de prêmios nacionais e internacionais.

“Criança é a melhor coisa do mundo. Sempre que posso converso com elas, é sempre uma troca muito boa. Por isso, trabalhei e continuo trabalhando para elas”, justifica Ruth, que prepara também um Almanaque Da Turma do Marcelo, a ser lançado no fim do ano e está em negociação para virar uma série televisiva.

Para ela, ter esses projetos, estar com a família e ter saúde são essenciais para se sentir plena, aos 88 anos. E qual é seu sonho hoje, Ruth? “É viver em paz. Só não estou mais feliz porque estou vendo o Brasil nesta situação.” O que acha que deveria ser feito para que essa realidade mudasse? “Acho que não posso dizer porque vou presa (risos). Quando escrevi O Reizinho Mandão, uma criança me perguntou: ‘Esse é o presidente da República?’ Eu disse: ‘Pode ser’... Ele perguntou: ‘Você não tem medo da polícia?’. Respondi: ‘Eu tenho medo da polícia (risos)’. Foi escrito em 1976, era bem no tempo da ditadura, mas serve perfeitamente para hoje”, finaliza. O livro fala sobre a morte de um rei sábio e justo, o que leva ao trono seu filho mimado e mandão. Além de criar leis absurdas, seu autoritarismo faz o povo literalmente perder a voz. 




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