Profissão: YouTuber

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Vanessa Soares

A princípio parece grande brincadeira, afinal, quem diria que publicar vídeos na internet daria dinheiro? A verdade é que a era da tecnologia e a faci­lidade de se conectar com o mundo trouxeram infinidade de redes sociais e aplicativos. Em meio a tantas outras, surgiu o YouTube que, atualmente, é a plataforma que mais cresce. Criado em fevereiro de 2005, possui mais de 1 bi­lhão de inscritos – o que equivale a quase um terço dos usuários da internet – está presente em mais de 70 países e disponível em 76 idiomas. De acordo com informações da empresa, o número de canais que recebem em grana seis dígitos – isso mesmo, seis – cresceu 50% ao ano. Diante destes números, está mais que provado que produzir vídeos na internet dá dinheiro.

 

Visionários de plantão que apostaram nisso com seriedade deram tacada certeira. É o caso da youtuber Flávia Calina (Fla1982), na rede há sete anos. “Começou quando tentava engravidar havia três anos e não conseguia. Precisava de um hobby para tirar esse assunto da cabeça. Como moro nos Estados Unidos e minha família em São Paulo, comecei fazendo vídeos com dicas de maquiagem para minha mãe e irmã e as pessoas foram pedindo mais.”

O passatempo virou coisa séria. Calina se deu conta disso quando os ganhos com a rede social se igualaram ao salário que ganhava como professora da educação infantil. “Pensei: dedico menos tempo aos vídeos e tenho o mesmo retorno financeiro que o traba­lho na escola. Se colocar mais esforço, onde pode parar? Decidi tentar e, graças a Deus, deu certo.” Atualmente, mais de 1,1 milhão de pessoas estão inscritas em seu canal e os vídeos têm, em média, 22 milhões de visualizações mensais. A paixão por crianças, o dia a dia com a filha Victoria, 2, e a expe­riência como educadora são os temas mais abordados. O sucesso e a demanda de trabalho são tamanhos que há alguns meses Ricardo – marido de Flávia – também passou a trabalhar exclusivamente com ela. “Levou um ano e meio para tomarmos essa decisão. De qualquer forma, precisaria de uma pessoa para me ajudar e o ideal seria ele. Nos organizamos financeiramente e decidimos unir forças.”

A carioca Evelyn Regly também deixou de lado sua profissão para viver como youtuber. Dona do blog É do Babado há 14 anos, onde trata de assuntos diversos e dá dicas de moda, maquiagem e viagens, a morena ficou conhecida, antes de tudo, por seu trabalho como webmaster. Com canal (Evelynregly) ativo desde 2013, quando começou a gravar vídeos de brincadeira, seu sucesso foi conquistado com bom humor e vídeos engraçados sobre relacionamentos. Mais de 1,4 mi­lhão de pessoas estão inscritas na página da blogueira. Sua audiência vem do Brasil e de países como Portugal, Estados Unidos e Japão. Mensalmente, cerca de 10,5 milhão de usuários visualizam suas postagens.

Só para se ter uma ideia de como a ‘brincadeira’ de ser youtuber pode chegar, basta ter como inspiração o PewDiePie (PewDiePie) – maior canal do mundo em número de inscritos (mais de 41 milhões) – que chega a fa­turar cerca de US$ 7 milhões por ano. O site Social Blade (rede especializada em análise de conteúdos da plataforma) estima que os dez maiores canais brasileiros faturam entre US$ 11 e US$ 185 mil por mês (dados referentes a julho de 2015). Um exemplo é o 5inco minutos, de Kéfera Buchmann, com mais de 7 milhões de inscritos. Cogita-se que ela fature, por baixo, mais de R$?300 mil por mês só no canal. Não há, porém, salário fixo. Alguns meses rendem mais, outros rendem menos.

Apesar de parecer fácil, são precisos disciplina, paciência e planejamento para que se torne possibilidade real viver da profissão. Não é do dia para noite que as coisas dão certo, explica o mestre em Comunicação e professor de Rádio, TV e Internet da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Luciano Souza. “Para obter ganhos expressivos o que conta é o envolvimento do canal com o público, ou seja, tudo é importante, o número de visualizações, de inscritos, de curtidas e de comentários. Os canais que se destacam nesses aspectos ganham relevância em mecanismos de busca e recomendações, e isso faz muita diferença quando você deseja aumentar o lucro.”

Para quem quer começar, o próprio YouTube dá suporte aos criadores de conteúdo por meio de programas e oficinas estratégicas nas instalações de produção do YoutubeSpace, inclusive em São Paulo. No site da empresa é possível aprender sobre como começar um canal, criar base de fãs e transformar a criatividade em carreira. Entre outras dicas que Souza dá para os iniciantes, está a de produzir vídeos-pilotos para testar a reação do público. “ É importante ter senso crítico e estar aberto à possibilidade de alterar o conteúdo ou mesmo o formato dos vídeos se o resultado não estiver sendo o desejado”, acrescenta.

Celebridades na vida real

A exposição constante na internet transforma os criadores de conteúdo em estrelas. Além disso, os números expressivos de alguns canais abrem portas também em outros negócios. Evelyn é exemplo. O trabalho na plataforma lhe rendeu oportunidades. “Assim que comecei a postar vídeos recebi convite para a Beauty Fair. Quando me falaram que iríamos acertar o pagamento, vi que era de verdade. Achei que ia como convidada, mas ganhei para isso”.

Além da presença em eventos, a morena conquistou confiança de empresas que firmaram parceria com ela. Atualmente possui linha de bijuterias e batons, coleção de camisetas estampadas com seus bordões e é garota-propaganda de uma linha de produtos para cabelo. Onde chega é ovacionada pelo público e possui legião de fãs. “É engraçado ser reconhecida, não caiu minha ficha ainda. Fui ao médico um dia desses e quando cheguei todo mundo me co­nhecia. Fui como uma pessoa normal, sem maquiagem e fiquei constrangida com todo mundo vindo falar comigo. Mas é gratificante o carinho porque é retorno do meu trabalho”, explica.

O mesmo acontece com Calina, que não consegue mais passar despercebida em locais públicos, principalmente no Brasil. “Tudo é muito esquisito e gratificante ao mesmo tempo. Todos os dias tento entender o motivo de tanto carinho. Sou feliz com esse trabalho, tenho orgulho de fazer parte dessa história e sou grata por tudo.”

Trabalhar brincando



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