Como nossos pais

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Miriam Gimenes

Para o bem e para o mal somos exemplos para os nossos filhos. Precisamos pensar nisso diariamente. Cai na real ao ler recentemente o livro que Juan Pablo fez sobre o pai, um dos maiores narcotraficantes da história, o colombiano Pablo Escobar (1949-1993). A publicação em si é espetacular, mas o que mais me tocou em toda obra foi a frase final do rapaz: “Dedico este livro ao meu pai, que me mostrou o caminho a não seguir”. Forte.
 
Juan tinha apenas 7 anos quando começou a notar quem realmente era Pablo, um homem reverenciado e respeitado na mesma proporção pela população carente local e os piores bandidos do país. Com a morte do ministro da Justiça, Rodrigo Bonilla, aumentaram as acusações ao Patrón, como era chamado por lá, e o garoto, que era cercado do bom e do melhor – ­ tinha até um zoológico particular, entre outras coisas –­ começou a perder aí a sua inocência infantil.
 
 
E ele, que tinha tudo para assumir o papel do progenitor e vingar sua morte, abdicou de uma vida de crimes, de seu nome e sobrenome (agora se chama Juan Sebastián Marroquín) para viver em Bue­nos Aires, mas de forma honesta, com as mãos limpas. Embora amasse Pablo acima de qualquer coisa, o que deixa bem claro em sua obra, soube extrair dele apenas as coisas boas ­ – era um pai de família espetacular, dizem – e eliminar o que de fato não era uma conduta a se seguir.
 
Mas ele é uma agulha no palheiro. Isso porque a tendência, segundo especialistas, é que os rebentos sejam o espelho dos pais. Filhos de alcoólatras, por exemplo, possuem quatro vezes mais chances de serem adultos também dependentes de álcool ou outras drogas se comparados à população em geral. O?mesmo acontece com a violência: estudo realizado na Universidade Cornell, em Nova York, mostrou que crianças criadas em lares violentos têm maiores riscos de terem problemas mentais, comportamentais e de relacionamento. Trata-se de um círculo vicioso.
 
Usando de um exemplo mais ameno, circulou por esses dias na internet um vídeo chamado Agora não, filho. Nele, a criança busca incessantemente a atenção do pai para brincar, jogar bola, fazer o dever de casa, passear e sempre é respondido pela frase que dá nome ao vídeo. Só que as situações se invertem e aquela criança, já adolescente, está de saída e o pai a aborda. Eis que ela responde: ‘Agora não, pai’. Nada mais é do que a repetição de conduta que ele viu a vida toda e, infelizmente, tomou para si.
 
 
Não vale a pena, portanto, correr o risco. como diz o texto judaico: "o bom exemplo constitui o melhor e mais eficaz sistema de educar os filhos". Assino embaixo. Vivemos, definitivamente, como nossos pais. 
 



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