Mão Santa tem fé na vida

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Vinícius Castelli

Difícil dizer se o basquete foi feito para Oscar Schmidt ou se o atleta foi quem nasceu para o esporte. Talvez as duas coisas. Trata-se de casamento daqueles perfeitos, de amor puro, dedicação em tempo integral e respeito. Considerado por muitos o maior jogador do mundo, mesmo sem ter representado a NBA, apesar de convidado – mais importante liga do mundo, que reúne times dos Estados Unidos e Canadá –, o brasileiro, nascido em Natal, Rio Grande do Norte, é dono de façanhas capazes de deixar qualquer um cheio de orgulho. Ele, aliás, é admirado por estrelas norte-americanas como Magic Johnson e Kobe Bryant, para citar alguns nomes. “Isso é motivo de alegria para mim. Tenho muito orgulho de ser quem sou”, afirma à equipe de reportagem da Dia-a-Dia.

O basquete entrou na vida de Oscar, 59, quando ele era jovem ainda, aos 13. Isso graças a um professor de Educação Física que teve na época. Foi ele quem apresentou o basquete ao garoto. Logo, sua carreira foi para o alto e avante, com muito esforço, é claro. Profis­sionalmente começou no Sírio, em 1976. No total foram 32 anos dedicados ao esporte. Oscar parou aos 45. Das mais de três décadas nas quadras, duas delas foram com a camisa da Seleção Brasileira. “Foi muito mais do que sonhava”, diz.

Tomar a decisão e, de fato parar de jogar, foi algo muito difícil para Oscar, principalmente por ter precisado abandonar a camisa que representa seu País. No entanto, ele poderia ter seguido adiante, pois tinha propostas. Mas não se arrepende de ter dito ‘não’. “Já estava velho para o esporte, parei com uma idade boa.” Mas ainda assim confessa sentir falta das quadras. “Minha vida foi o basquete”, analisa.

Fato é que o legado deixado por Oscar e sua camisa número 14, quando o assunto é basquete, é eterno. Não à tôa tem o apelido Mão Santa. Foram 49.737 pontos marcados ao longo de 1.615 partidas. Isso sem contar as cinco Olimpíadas das quais participou. Algo difícil de se alcançar. Mas Oscar não se gaba e diz que ter estado nas competições não o mudou como pessoa. “Foram cinco chances para ganhar uma medalha e não consegui”, brinca.

E se esses números não convencem, tem mais. Pela Seleção Brasileira Oscar marcou 7.693 pontos em 326 jogos. Campeão foi de tudo e mais um pouco: Mundial, Pan-Americano, Copa América, Brasi­lei­ro – sete vezes –, Paulistano, Pau­lista, Carioca, Jogos Abertos e o que mais tiver. E se Oscar é considerado um grande nome para os jogadores da NBA, o sentimento é recíproco. É de lá que vem sua maior inspiração. “Meu ídolo é o Larry Bird”, diz. Bird fez história no Boston Celtics nos anos 1980.

Dos momentos memoráveis que coleciona, um é especial para o brasileiro de mais de 2 metros de altura. Aconteceu quando estava prestes a completar 30 anos. Foi em 23 de agosto de 1987, nos jogos Pan-Americanos de In­dianápolis. A Seleção, sob o comando do técnico Ary Vidal, bateu os Es­tados Unidos em casa. “Vencemos por 120 a 115”, re­corda-se ele, que marcou 77 pontos naquele inspirado dia. O resultado rendeu ouro ao Brasil e tirou o gosto amargo da derrota quatro anos antes, em Caracas, na Venezuela.

Nem o Grande ABC ficou de fora da história do cestinha mais famoso do mundo. Em setembro de 1998 bateu o Santo André defendendo o Mackenzie/Microcamp/Barueri. O placar foi de 114 a 96. Dois anos antes, pelo Corinthians/Amway, derrotou o Singular/Santo André. Em 2002 tam­bém esteve no pedaço. Com o Flamengo, o Mão Santa venceu o São Caetano. Até time em Santo André pensou em montar. Foi em 1997. Mas a ideia ficou apenas no papel. Concretizou a ideia em Barueri.

FORA DAS QUADRAS

Oscar é famoso, reconhecido e realizado. Mas tem vida simples. “Gosto de pescar, de futebol americano, de viajar, de ouvir música no carro e de ver filmes com minha família”, conta. Hoje se dedica também a falar sobre sua vida em eventos, algo que começou a fazer logo após deixar as quadras. No total, ele oferece 12 tipos diferentes de palestras. Entre elas estão Trajetória, Obstinação, Lideran­ça, Desafios e Lições de Vida. Há até uma batizada Oscar e Marcel – companheiro de quadra e um dos responsáveis, também, pela famosa vitória no Pan em cima dos Estados Unidos. “Quando acabei de jogar resolvi investir nisso e funcionou muito bem.”

Além de vencedor nas quadras, é vencedor quando o assunto é saúde e pensamento positivo. Em 2011, Oscar descobriu ter câncer no cérebro. Mas isso não foi forte o suficiente para derrotar o ex-atleta. Ele lutou, não baixou a cabeça, tampouco a guarda. No ano passado, após realizar ressonância magnética, soube que não há mais células cancerígenas. Hoje, aproveita a vida mais do que nunca. “Mudou para melhor. Tudo o que fazia pouco agora faço muito, viajo mais, curto mais intensamente a minha família”, explica. Oscar não deixa de citar que a fé o ajudou muito nesse processo. Católico de coração, diz: “... O papa me abencoou, creio que melhor do que isso, impossível”.

MAIS SONHOS REALIZADOS

Oscar foi o primeiro brasileiro a integrar o Hall Of Fame (Hall da Fama do basquete). O ato se realizou em Springfield, nos Estados Unidos, em 2013. O brasileiro foi conduzido por ninguém menos do que seu maior ídolo, Larry Bird, em cena que emocionou a todos os fãs do esporte. Não bastasse isso, neste ano, em fevereiro, 14 anos após se aposentar, o ex-ala da Seleção Brasileira participou do All Star Weekend Game, Jogo das Celebridades da liga norte-americana. Maior pontuador da história dos Jogos Olímpicos, com 1.094 pontos, e reverenciado nos Es­tados Unidos e resto do mundo, Oscar entrou com a camisa número 14. “O Hall of Fame é um sonho que pensei que não fosse possível, mas aconteceu. Jogar o All Star também foi uma grande emoção”, descreve.

E quem pensa que, para uma vida, tudo o que Oscar fez já basta, está enganado. O ex-atleta se prepara para mais um desafio. Após atuar como comentarista esportivo e de ter protagonizado reality show na Fox Sports, agora deve apresentar, no mesmo canal, um talk-show. Nada ainda foi divulgado oficialmente, mas ele adianta que receberá muitos convidados.

Perto dos 60 anos, o maior cestinha do mundo, ao olhar para trás, se sente realizado. “Faria tudo igual. O destino me levou mais longe do que imaginava”, reflete. Ele não se arrepende nem de ter se recusado a jogar na NBA por duas vezes (em 1984 e em 1992). “Não se podia jogar na NBA e na Seleção ao mesmo tempo. Além do mais, três anos depois vencemos eles (os norte-americanos) em Indianápolis, o que provocou mudança na regra”, explica Oscar, que finaliza: “Continuo católico e aproveitando a vida, porque ela é curta”.

 



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