Dor humana

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Miriam Gimenes

Participo de um grupo de mães no Facebook e dia desses uma postagem anônima chamou a atenção. Nela, uma mulher dizia que desde que a filha havia nascido, já fazia alguns meses, ela só fazia chorar. Digo a mãe, não a bebê. Além disso, tinha um medo fora do normal de morrer. E pedia a ajuda das outras participantes para um possível diagnóstico. Muitas – muitas mesmo – se identificaram e sugeriram que ela procurasse um especialista porque, pelos ‘sintomas’, tudo indicava ser depressão pós-parto.

Segundo a doutora em psicologia experimental e pesquisadora do assunto Renata Pereira de Felipe, é comum a mãe sentir tristeza após o parto. A este sentimento dá-se o nome de melancolia da maternidade (o tal baby blues, no inglês). “Este quadro apresenta, geralmente, remissão espontânea entre cinco e dez dias após o parto. Tende a ocorrer em, aproximadamente, 70% a 90% das puérperas.” Entre os sintomas observados estão: choro, flutuação de humor, irritabilidade, fadiga, tristeza, insônia, dificuldade de concentração, e ansiedade relacionada ao bebê.

Já a depressão pós-parto pode surgir entre a quarta e a sexta semana após o nascimento do bebê e alguns especialistas dizem que pode durar até dois anos. E os sintomas são mais latentes. O humor fica deprimido, há alterações de peso, sono e psicomotoras, falta de energia e interesse em atividades, problemas de concentração, sentimentos de culpa voltados à maternidade, entre outros. “Tal quadro não tem remissão espontânea, indicando-se como tratamento os mesmos métodos empregados no de depressões gerais.” Leia-se psicoterapia com uso de remédios.

A incidência deste tipo de depressão atinge altas taxas em países em desenvolvimento como é o caso do Brasil (20% a 40% das mães) e decorre de uma série de fatores ­– obstétricos, socioculturais ou biológicos. Se não tratado a tempo, é um problema que pode afetar a criança: filhos de mães deprimidas tendem a apresentar dificuldades para se envolver e manter uma interação social adequada, tendo deficits na regulação dos seus estados afetivos.

Por isso, é importante que o marido, familiares e amigos fiquem atentos aos sintomas e procurem, o quanto antes, um psicoterapeuta. Seja ela qual for, a depressão, como disse Augusto Cury, nunca deve ser desprezada, já que é o último estágio da dor humana. 

 



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