O desafio do olhar solidário

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Vanessa Soares

A sensibilidade no olhar conquistada com mais intensidade após a maternidade ­– concretizada há quase dois anos ­– é o principal instrumento que Ana Carolina Barreto Serra, primeira-dama de Santo André, município onde nasceu e cresceu, tem utilizado para desempenhar o trabalho que lhe coube nessa nova fase da vida como mulher, mãe e profissional. Aos 38 anos, ela tem encarado com garra o desafio de comandar o Núcleo de Inovação Social por meio do Fundo Social de Solidariedade do município com um único intuito: despertar no cidadão andreense seu lado mais humano e solidário. “É este o legado que quero deixar para Santo André”, garante.

Advogada, mãe, mulher, se tornou primeira-dama por consequência, como ela mesmo gosta de dizer, e viu suas prioridades tomarem outra direção. Mesmo diante do novo desafio não se intimidou e tem trabalhado para deixar a sua marca. “Ele (Paulo Serra) que se tornou prefeito, mas estamos juntos nessa tarefa que é melhorar a vida do cidadão e trabalhar por Santo André. As prioridades se inverteram. A Ana Carolina agora, além de mãe, dona de casa, advogada e professora, é mulher do prefeito e está à frente do Núcleo de Inovação Social para tentar fazer alguma coisa diferente pela cidade.”

Trabalhar na administração municipal nunca foi algo que Ana Carolina tenha planejado, mas o caminho até esse desfecho foi natural. “Enquanto casal, temos sonhos em comum, então nada mais natural do que apoiar as decisões dele desde quando decidiu sair candidato. Nunca vou me esquecer, a Maria (filha do casal) tinha apenas 15 dias”, relembra.

O trajeto entre planejar e executar tudo aquilo que foi sonhado, no entanto, tem se mostrado mais longo do que o imaginado. Quando assumiu, encontrou o Fundo Social de Solidariedade inativo e o Banco de Alimentos – projeto pioneiro no País, lançado em 2000 – com as atividades paradas desde outubro. Precisou colocar o pé no freio para organizar a casa. Tal atitude já rende seus frutos e prova disso é a reabertura do projeto que arrecada alimentos, que voltou a funcionar em abril. “Para nós, era uma vergonha ter um projeto pioneiro encerrado. Reabrimos, fizemos eventos para arrecadação e estamos atrás de novos parceiros”, explica. O que for angariado será entregue a instituições de caridade do município.  

Diversas outras propostas também estão sendo pensadas, e a ideia é colocá-las em funcionamento já no segundo semestre. Para isso, tem buscado parcerias, inclusive com o governo estadual. Em encontro realizado em março, Ana Carolina teve a chance de encontrar com Lu Alckmin, primeira-dama do Estado, em quem tem se espelhado. “Sou nova nesse universo de primeira-dama (risos). Mas pelo pouco que conheci e tive contato, gostei bastante da forma que ela (dona Lu) lida com tudo. São inúmeros projetos, diversas atividades e a gente sabe que ainda tem que acompanhar o marido. E, apesar de tudo, ela transmite uma serenidade que eu também gostaria de passar.”

Além disso, ela pôde conhecer de perto os projetos idealizados por dona Lu à frente do Fundo Social de Solidariedade do Estado, que tem bons resultados. “O encontro foi muito interessante, rico. Aprendi bastante sobre as atividades e o que a gente pode aproveitar para o município. Na verdade, para quem não tem nada, pouco é muito. E enche os olhos ver as atividades do Fundo Social do Estado. Estamos correndo atrás”, garante. A intenção é que Santo André disponibilize para a população os cursos ministrados pelo Estado, como escola da moda, construção civil, padaria artesanal e escola de beleza. “Nós nos inscrevemos e agora aguardamos aprovação”, garante. 

Ana Carolina também tem sonhos próprios, entre eles um voltado para capacitação de profissionais para área pet, outra de suas paixões. “Para os meus projetos preciso captar recursos. Ainda estamos pensando em soluções para tirá-los do papel, organizando o fundo financeiramente para então poder dar os próximos passos e não fazer nada sem planejamento.”

Com as novas atividades, a advogada conta que precisa ter jogo de cintura para se adequar à nova rotina, ainda não estabelecida. Para dar conta do recado, diminuiu suas atividades no escritório de advocacia, mas não deixou seu ofício como professora de Direito Previdenciário da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). “Preferi manter porque gosto muito de dar aula”, afirma. Entre outras coisas que precisou adiar estão as aulas de saxofone, hobby que mantinha no tempo livre. “Por enquanto não tenho mais horas vagas (risos). A única coisa que não abri mão é de fazer exercícios físicos. Tento estabelecer rotina de três vezes na semana, mas  tem sido cada vez mais difícil achar tempo.”

As atividades físicas são parte do tratamento que Ana Carolina faz para manter a doença de Crohn em remissão. Autoimune e consequentemente sem cura, a síndrome é uma doença inflamatória séria do trato gastrointestinal. Ela conta que levou dois anos para ter o diagnóstico fechado e, desde então, o tratamento é constante, feito com injeções a cada dez dias e oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Com a exposição no papel de primeira-dama, tem aproveitado para conscientizar sobre a doença, tão difícil de ser descoberta. “Estamos à frente da campanha Maio Roxo, que já existe em outras cidades. Tive a ideia de encampar e mostrar que é possível, apesar de ser uma doença que não tem cura. Dá para levar uma vida normal com o tratamento. Achei que não poderia fazer nada melhor nessa minha posição do que levar conhecimento às pessoas.”

 

O AMOR

Casada desde 2013 com Paulo Serra, a andreense conta que o amor nasceu da amizade de uma vida inteira. “A gente se conhece desde criança, e nossa história é meio engraçada. A mãe dele é prima do meu tio, que é casado com a irmã da minha mãe (risos)”. A aproximação aconteceu quando Ana Carolina estava à frente da secretaria geral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André e Serra era vereador. “Foi aí que tudo começou. A amizade que virou amor”, relembra.

Típico de qualquer casal, a política é pauta inevitável nas conversas em casa. “Não é só pelo cargo dele, mas acho que mesmo se não fosse prefeito a gente também discutiria. Quem é que não conversa sobre política?”, questiona. “Inclusive, ele (Paulo Serra) tem uma frase que gosto muito que diz: ‘A partir do momento que você dá bom dia para quem você não gosta, já está sendo político’”, acrescenta. Ou seja, o ‘ser político’, mesmo que a pessoa não goste, está no dia a dia de cada um. 

Para o futuro, Ana Carolina deseja colher bons frutos de todo o trabalho que vem desempenhando nesse novo cargo e espera que a situação política que o País vem enfrentando nos últimos tempos não se repita. “É um momento de repensar os próprios atos do dia a dia. Acho que isso que a gente vive é reflexo da sociedade atual. Então, por que não mudar comportamento, não mudar padrão? Isso tem de começar dentro de casa. O que você não quer para você, não faz para os outros. E é esse exemplo que a gente tem que deixar para as crianças. É um momento de renovação. Devemos passar por ele, sem sombra de dúvida, mas a gente não deve repetir. Já sabemos que não deu certo”, finaliza.

A primeira-dama se arriscou no slackline durante o Domingo no Paço, evento de atividades gratuitas ao ar livre no Paço Municipal. Abaixo, ao lado do prefeito na reinauguração da ciclofaixa




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