Compartilhe:
Soraia Abreu Pedrozo
Poucos destinos no mundo despertam tanto o imaginário dos brasileiros como a Itália. A começar pelas origens em comum, já que o Brasil é a maior colônia de italianos no globo, com mais de 30 milhões de descendentes deles – quase 15% da população tupiniquim. Não à toa, o País da Bota (uma alusão ao formato da Itália no mapa) está presente na nossa culinária, nos costumes, nas novelas e nos nossos sonhos. Tanto que achamos que parliamos italiano, mas nos surpreendemos quando descobrimos que lá ciao é oi, e não tchau. E ficamos boquiabertos com a pizza inteira que, na verdade, é para uma só pessoa, devido ao fato de ser mais fina do que as redondas que estamos acostumados. Assim como quando descobrimos que a água das fontes espalhadas pelo país, os nasones, é potável. E de graça.
Fato é que o local é destino de muitas viagens ao longo da vida e, apesar de um pouco salgado para o bolso do trabalhador brasileiro, vale cada centavo. As paisagens, ruínas, monumentos e história fascinam, ensinam e emocionam. E ficam para sempre na retina. Uma primeira viagem à Itália pode ter de dez a 15 dias, e passar por lugares como Roma, cidadezinhas da Toscana, Florença, Pisa, Verona e Veneza. É possível se deslocar de carro pela Toscana e de trem pelas demais localidades.
Para começar a descortinar o destino, nada melhor do que explorar Roma, a cidade que transpira história, e é um verdadeiro museu a céu aberto. A propósito, um dos programas mais legais dessa cidade, segundo a lenda, fundada por Rômulo e Remo em 753 a.C. – amamentados pela loba capitolina, cuja escultura de bronze é espalhada por toda parte, assim como a história por trás dela – é se deparar com monumentos que, inexplicavelmente, estão ali intactos e belíssimos, faça chuva ou faça sol. Por isso mesmo, é apelidada de Cidade Eterna. Outro, é comprar um gelato, que leva à loucura amantes de sorvete, e se perder pelas ruazinhas que parecem ter saído de um filme. Ou muitos deles.
NA ANTIGUIDADE
É possível assegurar que não há, no mundo, nada igual a Roma. Falta fôlego para admirar as maravilhas espalhadas pela cidade. Pensando em um roteiro de três dias, é interessante partir da Roma Antiga – que é quando visualizamos tudo o que estudamos nos livros de História por anos a fio. Em um só combo – prepare as pernas – dá para visitar vários cartões- postais. Com um só ingresso é possível conhecer três atrações: Coliseu, Palatino e Foro Romano. Uma fica ao lado da outra. O ideal é comprar antecipadamente pela internet (www.coopculture.it/en/colosseo-e-shop.cfm), para evitar uma fila bem cansativa. A entrada custa 12 euros. Se estiver na primavera, vá com roupa confortável e fresca, porque se anda muito e não há sombra.
Para chegar lá dá para ir de Metrô até a Estação Colosseo (linha B). Se estiver com mais disposição, é possível descer uma estação antes, na Cavour, e ir caminhando até a igreja San Pietro in Vicoli – lá estão as correntes que aprisionaram São Pedro e a obra-prima de Michelangelo apelidada de Moisés manco. Isso porque faltou mármore e o artista deu uma dobradinha no pé de Moisés para disfarçar a situação. Vale a pena vencer a escadaria que leva na igreja e conhecê-la, e de lá é pertinho ir a pé ao Coliseu, que emociona à primeira vista, e estimula fotos dos mais diversos ângulos – inclusive vindo desta direção, se tem visão privilegiada.
Alerta de spoiler: é possível se decepcionar com o interior do Anfiteatro Flavio, como é chamado o Coliseu. Isso porque ele é tão monstruoso por fora e, por dentro, apenas diferente do que esperamos. Talvez porque filmes como o Gladiador, de Ridley Scott, tenha estimulado demais nossa imaginação e esperamos ver o cenário de massacres e confrontos com leões que originaram o Pão e Circo. É bacana entrar. Mais que isso, é histórico. Mas o barato é sentar do lado de fora e passar um tempo admirando essa maravilha do mundo moderno. Para quem for a partir de agora, foram reabertas as visitas noturnas, que certamente têm charme à parte.
De lá, dá para apreciar o Arco de Constantino rumo ao Foro Romano. O ideal é desbravar a subida ao Palatino, onde a vista compensa cada gota de suor. Dá para imaginar direitinho como viviam os romanos de 2.770 anos atrás. Na descida, se faltar pique para percorrer todo o Foro Romano por dentro, com ruínas que rendem belas fotos, é possível sair pela Via Dei Fori Imperiali, de onde se tem vista singular do Coliseu, Foro e Palatino. Experiência que fica para sempre na memória.
Vias romanas são deleite para serem percorridas a pé
A Cidade Eterna tem ruas que convidam o turista a percorrê-las a pé, e sem pressa. Após apreciar os milhares de anos de história viva no entorno do Coliseu, é hora de caminhar até o imponente Il Vittoriano, chamado pelos romanos de Bolo de Noiva. Ele pode ser visto de diversas partes de Roma, portanto, de pertinho é um deleite para os olhos. Em Para Roma com Amor, de Woody Allen, a Piazza Venezia, onde está o monumento, é um dos pontos de partida do filme.
O Bolo de Noiva tem vista panorâmica da cidade, porém, quem não quiser subir e optar por seguir nas andanças pode, dali, seguir pela Via Del Corso, que é extensa e tem dezenas de lojas, inclusive fast-fashions H&M e Zara, a italiana de maquiagens Kiko e a Tiger, dinamarquesa de itens estilosos de decoração e cacarecos descolados.
No caminho, se leem placas que levam, se virar à direita da via, à Fontana di Trevi, gigante imortalizada por Anita Ekberg e Marcello Mastroiani em La Dolce Vita, de Federico Fellini. É um dos monumentos mais lotados – bem diferente do mostrado na película – e impressionantes de toda a Itália. Ainda assim, vale muito a pena visitá-la quantas vezes for possível e não se esquecer de jogar uma moeda de costas para ela com a mão direita, e por cima do ombro esquerdo, para retornar a Roma, conforme diz a lenda. Em 2016, a prefeitura local recolheu 1,4 milhão de euros e destinou o montante à caridade.
A mais uma caminhada dali, a Via dei Condotti leva, em meio a suntuosas boutiques de grife, como Dolce&Gabanna, Prada e Salvatore Ferragamo, à Piazza di Spagna com sua escadaria espanhola de cair o queixo que leva à igreja Trinitá dei Monti, também retratada em Para Roma com Amor. Quem tiver alguns – muitos – euros a mais pode dar um alívio aos pés com passeio em clássicas carruagens pelo bairro. Para compensar, se não estiver hospedado por ali, dá para voltar ao hotel de Metrô, a partir da estação Spagna (Linha A).
Ver o Papa Francisco faz bem para a alma
Já prega o ditado que quem vai a Roma e não vê o papa é como se não tivesse ido. Pois bem, para vivenciar essa experiência transcendental e emocionante na vida de qualquer ser humano, seja qual for sua religião, é preciso se organizar. Francisco realiza audiências às quartas-feiras e dá uma voltinha com seu papa móvel. Aos domingos, aparece na janelinha. Para participar da audiência, falada em vários idiomas, inclusive em português, é preciso, um dia antes, retirar pessoalmente o convite lilás, distribuído gratuitamente perto da prefeitura do Vaticano, na parte coberta da Praça de São Pedro. Dá para ir de Metrô; da Estação Ottaviano (Linha A) se caminha por dez minutos.
No dia, é bom chegar cedo, por volta das 9h, para garantir uma cadeira, pois as hordas de fiéis lotam o recinto. O ato se encerra lá para o meio-dia e, nesse dia, a Basílica de São Pedro só abre às 14h. Nesse meio-tempo, dá para fazer pausa para o almoço na deliciosa Via Borgo Pio, cheia de lojinhas de souvenires e restaurantes charmosos com mesas na rua.
Monstruosa, a Santa Sé é surreal. A sensação é de que somos anões em uma terra de gigantes, como no conto de João e o Pé de Feijão. Tudo por ali tem proporções homéricas, a exemplo do portal sobre o túmulo de São Pedro. Logo na entrada, à direita, está a Pietá, uma das obras-primas do papa do mármore, Michelangelo (ele, de novo). Na parte de cima da igreja ficam apenas os túmulos de santos – e é onde João Paulo II está. Na cripta, no subsolo, estão os demais papas. A entrada é gratuita. Apenas para subir à cúpula – que tem incômoda escada de caracol – são cobrados seis euros ou oito com atalho por elevador. A vista é espetacular.
É preciso destacar que, mesmo que esteja fazendo um baita calor, não é permitida a entrada nesta nem em outras igrejas com trajes curtos. A dica é levar lenço na bolsa e se envolver nele ou amarrá-lo na cintura.
Fãs da trilogia de Dan Brown, especialmente o segundo da série, Anjos e Demônios, não podem perder o belíssimo Castelo de Santo Ângelo (15,50 euros), onde foram gravadas algumas cenas da versão para as telonas, dirigido por Ron Howard. Pertinho do Vaticano e à beira do Rio Tevere (ou Tibre, para nós), de lá se tem vista ímpar tanto da basílica como do rio. Na saída, atravessar a pé a ponte de Santo Angelo, com os maravilhosos anjos de Bernini, é experiência que faz bem à alma e aos olhos. Então, se tem duas opções: com mais tempo, passeie sem pressa pelo tipicamente romano e cênico bairro Prato. Com menos, tome um táxi ou caminhe até a Piazza Navona, também cenário de Anjos e Demônios. Se estiver com fome, vale a pena comer uma pizza ali, mesmo que a preços mais salgados.
DEMOCRÁTICO
Nos adentrando pelas ruelas da parte de trás da Navona – que também aparece em cena de película com menos adrenalina e com mais água com açúcar, Comer, Rezar e Amar – basta seguir as placas rumo ao Panteão.
No meio do caminho eis que surgem ruínas de colunas romanas gigantes, o Templo de Adriano, que chocam pela beleza inserida à paisagem urbana contemporânea. Mais alguns minutos de caminhada é hora de, mais uma vez, nos sentirmos anões em terra de gigante. O Panteão, cuja entrada é gratuita e, por isso, a fila geralmente toma conta da Piazza della Retonda, já foi templo de deuses gregos e, hoje, é igreja e descanso de restos mortais de reis italianos e de Rafael Sanzio. O local é iluminado naturalmente por um ósculo no topo da cúpula que, em dias chuvosos e com muita gente, o calor humano impede que a água molhe seu interior.
Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados