A arte de cozinhar

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Tauana Marin

Crianças dão show na execução de pratos e revelam paixão pela gastronomia.

Os diferentes cheiros, gostos e cores que a cozinha oferece a torna cada vez mais democrática e interessante aos olhos de uma criança. Não é à toa que, cada vez mais, minichefs se formam, dando toque todo especial aos pratos, sejam doces ou salgados. E, para alguns, no dia 12, que, junto ao feriado religioso de Nossa Senhora Aparecida, comemora-se o Dia das Crianças, por incrível que pareça os brinquedos ficam em segundo plano e são trocados por panelas, objetos com os quais encontram diversão, colocando, literalmente, as mãos na massa.

Pietro Malena Crescente, 9 anos, é um desses pequenos chefs. A paixão por fazer pratos é tão grande que há um ano, todos os sábados, ele vai de São Paulo (onde mora) até São Bernardo em busca de conhecimento na escola de culinária Sabor & Saber Gastronomia. O interesse por comandar o fogão surgiu aos 5 anos, quando começou a querer ajudar na cozinha. “Sempre gostei de ver meus pais cozinhando. Preparar receitas é uma diversão para mim, porque sou curioso e gosto de aprender coisas novas com os alimentos.” Dentre as obras-primas do cardápio pessoal de Pietro estão macarrão (muitas vezes preparado pelo pai, que varia entre molho branco e vermelho); torta de atum, que aprendeu durante as aulas; esfirra; lanche de bauru com rosbife; massa de pizza; doce de banana e brigadeirão. Para sua mãe, a professora Alexandra Carneiro Malena Crescente, 41, a frequência com que reúnem amigos e familiares para jantares e churrasco em casa foi um dos fatores de incentivo ao ‘dom’ do filho. “Ele sempre se propôs a ajudar na cozinha. Comer também é socializar. E, em meio às comilanças, percebemos sua aptidão e incentivamos. Por isso, também buscamos referências em uma escola.”

Um amigo da família, Eduardo, chamado carinhosamente de Pica-pau, também foi fundamental em encorajar Pietro a levar a culinária a sério. “Os dois sempre assistiram juntos a programas do gênero, como o MasterChef, da Band. Ficavam comentando os pratos e dando palpites de como ficariam melhores”, relata Alexandra. Na escola em São Bernardo um dos primeiros pratos feitos por Pietro foi omelete com queijo e legumes. “O mais legal é que depois dos ensinamentos podemos provar os pratos uns dos outros. Assim dá para saber se o que fizemos agradou ou não”, avalia Pietro. 

Em 12 meses estudando a culinária, o garoto já aprendeu a importância das ervas para aromatizar os pratos, a introduzir alimentos saudáveis e frescos, a deixar as preparações bonitas e bem apresentadas, além dos cuidados com os utensílios de cozinha, como facas e raladores, e com o fogão e forno. “Na escola eles são monitorados por instrutores e professores e em casa eu e o pai dele ficamos de olho e o orientamos sempre para que não se machuque. Bater ingredientes no liquidificador, picar os alimentos, refogar, separar os itens da receita e fazer a lista de compras ele já faz sozinho, sem auxílio. Gosta de temperar carnes e já supervisiona a churrasqueira. Ele realmente gosta, se interessa e ficamos felizes e orgulhosos”, pontua a professora. 

Experimentar diferentes pratos antes de falar que não gosta é outra coisa que Pietro vem aprendendo. “Alguns legumes e frutas, por exemplo, ele passou a comer (depois que começou a cozinhar). Na culinária é assim, você precisa ao menos provar e ver se agrada o paladar ou não.”

A realidade dos aprendizados junto a muita prática têm concretizado sonhos. Para o futuro, Pietro deseja cursar Gastronomia e fazer novos cursos. “Priorizarmos as refeições juntos, ver o pai sempre na cozinha me ajudando e fazendo pratos trouxeram ao Pietro uma realidade diferente de que, sim, todos podem e devem cozinhar. E do quanto é importante comer em família. É um ato prazeroso, que revela cuidado e amor com aqueles com quem moramos”, analisa Alexandra.

Entre as referências de Pietro está o renomado chef de cozinha Henrique Fogaça, um dos jurados do MasterChef. Mas, apesar de acompanhar os realities gastronômicos, Pietro ainda não se sente preparado para se inscrever numa competição. Aos poucos, a timidez tem dado lugar ao foco e à concentração. “Tive de fazer um prato na escola com uma frutinha chamada uvaia, característica da Amazônia. E foi um grande desafio. Fiz um molho e servi com medalhão de carne de porco. Nunca tinha ouvido falar nessa fruta, por isso, gastronomia exige estudo, pesquisa, com o que cada ingrediente vai bem. Preciso me preparar bem para participar de um programa.”

Competição

A receita do bolinho da avó materna, chamado tarolo e parecido com o de chuva, é a mais doce memória afetiva de Sophia Correia Campos Avilla, 12 anos, de Santo André. Foi acompanhando as avós na cozinha que ela se conectou com a confeitaria e nunca mais abandou o ambiente. 

A paixão pela atividade, inclusive, fez com que participasse do Júnior Bake Off Brasil, pelo SBT, no início deste ano,  competição entre confeiteiros mirins. “Me considero uma formiguinha, a sobremesa sempre fecha a refeição. Tenho prazer em comer e em cozinhar para as pessoas, é um ato bonito e generoso. A comida socializa, aproxima. Isso é o que mais me encanta. Sempre observei minhas avós cozinharem, as ajudo desde pequena (4 anos), e sei que foram essas experiências que me motivaram a querer descobrir o mundo dos doces”, comenta a garota. Participar do programa foi gratificante para a andreense, por ter sido a chance de superar seus limites, controlar a ansiedade e administrar o tempo. ”Fiz muitos amigos, me divertia nos estúdios do SBT e aprendi muito. Foi uma grata experiência e pretendo ter muitas outras.” 

A organização que possui com os estudos, Sophia tenta levar para a cozinha. Segundo ela, medidas e processos técnicos contam muito quando se faz um doce. “É diferente de fazer um prato salgado, onde é mais fácil corrigir os sabores e texturas. Se no meio da confeitaria você cometer alguns deslizes, o resultado não vem.” A menina, sempre incentivada pelos pais, já fez bolos para amigas de escola, professoras e está aceitando algumas encomendas. Para Sophia, ter o próprio dinheiro é recompensador. “Tenho minha autonomia na hora de comprar minhas coisas, sair com meus amigos. Isso me traz satisfação, porque penso: ‘Estou vendendo meus doces’. Sou uma empreendedora e, como minha mãe sempre fala, cozinhando meus quitutes já tenho uma carreira.” A garota tem um canal no YouTube (Sophia BLABLABLA), onde mostra um pouco de suas atividades e também realiza receitas com participações especiais.

Dentre as iguarias mais feitas estão o bolo de baunilha arco-íris, cake pop (bolo no palito) e cupcakes. Na lista de receitas salgadas, uma se sobressai: panquecas. O aperfeiçoamento para realizar todos os pratos teve ajuda por um ano frequentando escola de culinária de Santo André. “Gosto de fazer de tudo, mas a confeitaria é que me encanta. É fazendo doces que posso ser mais criativa, usar muitos confeitos. Quero viver tudo o que eu puder nesse meio, mas não descarto seguir a carreira de atriz, já que faço teatro (Artes Cênicas), ou as áreas de arqueologia e paleontologia, que também me fascinam.” No futuro, uma das certezas que tem é a de que nunca vai abandonar a arte de cozinhar. “Se eu tiver, quero levar meus filhos para a cozinha, quero que aprendam e saibam fazer coisas simples e gostosas. É nessas horas que também criamos laços e boas memórias.” 

Pelas suas andanças, a mãe, Adriana Correia, 51, é quem a acompanha. “Tenho muito orgulho, até porque não me dou muito bem na cozinha. Mas a Sophia aprendeu muito com as avós. Hoje fico feliz em vê-la realizada. 

A deixo livre, mas vou apoiá-la, sempre.” Com criatividade e um paladar aguçado, a receita não tem como dar errado: é só se deliciar. 

 

Bolo de baunilha

(Receita de Sophia)

Tempo de preparo: 1 hora

Rendimento: 4 pessoas

Ingredientes:

3 ovos;

¾   xícara (chá) de óleo;

1 colher de sopa de essência de baunilha;

½   xícara (chá) de leite;

1 xícara (chá) de açúcar;

2 xíc. (chá) de farinha de trigo;

1 colher (de sopa) de fermento em pó.

Modo de preparo: 

Bata os ingredientes no liquidificador, exceto a farinha de trigo e o 

fermento. Despeje em 

um recipiente e adicione 

a farinha e o fermento. Coloque em forma untada (com manteiga e farinha) 

e asse em forno aquecido

a 180°C, por, aproximadamente, 25 a 30 minutos. Para rechear, use a criatividade. Como é básico, o bolo pode ser servido com geleias de frutas, brigadeiro ou qualquer outra calda.

 

Macarrão 

(Receita que Pietro faz com o pai)

Ingredientes:

1 pacote de macarrão espaguete;

500 gramas de carne moída;

1 cebola;

dentes de alho a gosto;

sal;

tomates;

azeite;

queijo ralado;

cenoura e abobrinha;

folhinhas de manjericão.

Modo de preparo: 

Aqueça uma panela com água para cozinhar o macarrão. Enquanto não ferve, corte os tomates, tire suas sementes e os bata no liquidificador para fazer o molho (caso prefira, pode usar molhos de tomate prontos). Em uma frigideira, doure com o azeite a cebola e o alho. Em seguida, adicione a carne e a refogue. Quando estiver pronta adicione o molho de tomate e deixe apurar (a água secar). Assim que o macarrão estiver cozido (molinho) o escorra e sirva em prato. Regue a massa com o molho de carne. Cenoura e abobrinha raladas podem ser salpicadas, além do queijo e das folhinhas de manjericão sob o macarrão. Lembrando que o molho pode ser feito sem a carne. Os legumes são uma opção nutritiva para a pasta. Se não gostar de manjericão, pode substituir por cheiro-verde (salsinha).




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