Amanda Perobelli, que morou por cerca de 20 anos em S.Bernardo, foi reconhecida por capturar imagens da inundação no Sul do País em 2024
A maior premiação de fotojornalismo do mundo, a World Press Photo, reconheceu como o melhor registro da América do Sul, em 2024, a cobertura da fotojornalista Amanda Perobelli sobre as enchentes que castigaram o Rio Grande do Sul, no mesmo ano. A profissional, 40 anos, foi a escolhida após um ensaio com dez imagens. Paulista de origem, ela construiu a carreira no Grande ABC. Além de ter morado por 20 anos em São Bernardo, se formou na Umesp (Universidade Metodista de São Paulo) e trabalhou em jornais de Santo André ao longo de 13 anos.
A sequência de imagens – feitas para a agência internacional de notícias Reuters – começa com uma visão área de imóveis submergidos, passa pelo resgate a barco de ilhados e chega aos destroços deixados pela correnteza. Entre os recortes sensíveis, estão especialmente o de duas crianças que, em um galpão para desabrigados, se abraçam para assistir no celular desenhos animados. Em outro recorte, Amanda capturou pelas lentes a história da agricultora Edite de Almeida e do marido João Engelmann: “Viemos do nada. Voltamos ao nada. Agora recomeçamos”, desabafou, na ocasião, a gaúcha de Eldorado do Sul, aos 51 anos.
Na Reuters há sete anos, esta é a primeira premiação da fotógrafa, que já havia sido finalista no Picture of the Year, este ano, e no Putlizer, em 2022. “Foi o trabalho mais difícil que já fiz. Um acontecimento tão duro. Foram mais de 400 cidades afetadas pelas fortes enchentes. Isso fez com que a logística para me locomover fosse muito difícil. Além disso, a magnitude era de mais de 180 mortos, 600 mil desalojados e 2 milhões de afetados. É um desafio enorme fazer um trabalho que mostre tudo isso”, descreve.
Amanda contou ainda que sua primeira impressão da calamidade, conforme avançava na expedição – que começou na cidade de Canoas –, escalou para a surpresa. “Nunca tinha visto algo como aquilo. Até eram muitos querendo ajudar, mas o impacto e a dimensão da tragédia foram massivos. A ideia era mostrar todos estes níveis, porque o que mais me move na fotografia é isso: contar a história de pessoas”, detalha.
Entretanto, a cobertura do acontecimento que garantiu a premiação é apontada pela fotojornalista como um trabalho que, acima de tudo, indica os impactos das mudanças climáticas no País. “Foi uma enchente agravada. Por isso, tem toda aquela questão de como o poder público não se preparou e poderia ter se preparado para mitigar os efeitos ali”, reflete.
O alcance do prêmio e da cobertura valoriza o trabalho do fotojornalismo que se torna cada vez mais escasso e “precisa ser valorizado” nas redações de veículos da mídia, de acordo com a profissional. “Esta foi minha principal dificuldade na carreira: entrar em um mercado q<CW7>ue está diminuindo.</CW> Aprendi a fotografar adulta e a gente sabe que a fotografia é um comprometimento não só com as notícias, mas com memórias familiares, por exemplo. Se pudesse dar um conselho aos colegas de profissão é manter o orgulho e otimismo pelas histórias novas a contar”, revela a profissional.
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