Autor de São Bernardo reflete sobre pandemia e amor em livro poético

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Lays Bento

“Será que acabou?” é uma das primeiras indagações de "Pandemia e Amor em Poesia: Reflexões de um tempo vivido sob cruéis máscaras", livro de estreia de João Schleder, 75, escritor radicado em São Bernardo há 35 anos. Ao Diário, o autor, novamente recém-diagnosticado com Covid-19, reforça que, tanto o romance (até a terceira idade), como as consequências do distanciamento social são mais triviais do que se imagina. 

Internado no período entre 28 de dezembro e 4 de janeiro último em decorrência da doença abordada nas 95 páginas da obra, que foi lançada em outubro, Schleder não atribui o fato a coincidência. “Podem imaginar que a pandemia aconteceu há um bom tempo, mas vejo que a nossa memória é muito curta”, critica. 
Segundo ele, os versos maturados desde 1972, além de escritos do período de quarentena, visam trazer à memória e cobrar ações remanescentes de governos, mesmo após três anos do decreto de ‘fim de emergência sanitária global’ pela OMS (Organização Mundial da Saúde). “Quem procurou ver e apontou onde erramos para evitar reincidência ou algo similar?. Aliás, ainda tem gente internada, assim como eu, que tomei cinco doses de vacina, mas neste ano, num belo dia, acordei com febre e sintomas. A catástrofe poderia ou pode ainda ser muito maior”, pondera. </CW><CW-20>

Censura

Dentre as reflexões em forma de poesia, Schleder utiliza o espaço para atribuir ao auge da pandemia o nascimento de uma polarização política (instalada pela gestão Bolsonaro, PL e Lula, PT) que, acredita, deve marcar o País pelas próximas décadas.
Natural de Niterói, cidade no Rio de Janeiro, o escritor cursou Jornalismo na UFF (Universidade Federal Fluminense) em 1964 – ano em que justamente se instaurou o controle opressivo da Ditadura Militar sobre artistas, comunicadores e movimentos sociais. Segundo ele, aquele e este período são dignos de críticas.
“Quando jovem, eu era bem crítico social, o que é preciso agora. Na época, consegui acabar Jornalismo, mesmo que o curso tenha ficado tendencioso e mais inacessível porque as aulas aconteciam em polos a 30 km de distância um do outro. Comecei Sociologia depois, mas eles (militares) impediram a realização do curso de forma geral logo em seguida”, recorda ele. 
Os rumos o trouxeram a São Bernardo, onde fixou raízes a convite de um trabalho no ramo de comunicação empresarial da indústria Basf. 

Leveza

Ainda de acordo com Schleder, antes que as poesias virassem manuscrito (por convite da Editora Viseu), serviram como maneiras de demonstrar afeto nas redes sociais entre 2021 e 2023, período que inibiu abraços e aproximações sociais. “É algo que aprecio desde a infância, mas jamais imaginei que poderia publicar como literatura mesmo”, diz.
O curioso é que, apesar do peso pandêmico, o amor divide metade da temática presente no livro. Para ele, amar é escrever. “Levei 40 anos para falar que estava apaixonado pela minha esposa, mas todas as poesias românticas que escrevi (no livro) são para ela. E acho que, na literatura, é isso: a maioria das pessoas querem expôr seus sentimentos. A gente ama a vida inteira e por isso, aos 75 anos, quando o pessoal acha que não existe mais este amor aquecido, eu defendo ele”, afirma.



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