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Miriam Gimenes
Regina Casé encara, aos 65 anos, um dos principais papéis de sua carreira, a Lurdes, de ‘Amor de Mãe’, mistura das mulheres que conheceu durante sua vida, e fala sobre a possibilidade de voltar a apresentar programas televisivos.
Regina Casé é conhecida por seu jeito irreverente. Dona de inúmeros personagens cômicos, entre eles a inesquecível Tina Pepper, de Cambalacho (1986), ela se aventurou em diversos formatos. Mas nenhum alcançou a repercussão de Lurdes, de Amor de Mãe, no ar às 21h, na Rede Globo, escrita por Manuela Dias e com direção artística de José Luiz Villamarim. A personagem, nascida em Malaquitas, cidade fictícia do Rio Grande do Norte, divide o protagonismo do folhetim com Thelma (Adriana Esteves) e Vitória (Taís Araújo) – as três com personalidades e histórias distintas, que se entrelaçam – e ganhou o público ainda no primeiro capítulo da trama, sucesso que tem aumentado a cada reviravolta do enredo.
Lurdes marca a volta de Regina às novelas. A última que tinha feito por completo, de fato, foi As Filhas da Mãe, de 2001 – nas demais foram participações especiais. Mas Lurdes, a mãe de Magno, Ryan, Domênico, Camila e Érica, a arrebatou. “Foi justamente quando conheci a personagem que tive certeza que deveria aceitar o convite. Acho que, na verdade, tudo que eu faço tem uma correspondência com o que estava fazendo antes. Por exemplo, comecei no teatro, no Asdrúbal Trouxe o Trombone, e fiz na TV Pirata aquilo que eu fazia no teatro, só que na TV. E, depois, todos os outros programas que foram se sucedendo eram uma maneira de renovar o que sempre gostei de fazer. E a novela é exatamente isso. Pensando bem, a Lurdes e a novela têm muito a ver com o Esquenta.”
Quando a atriz cita Asdrúbal, trata-se do grupo teatral cômico e anárquico que ela manteve com seu pai, Geraldo Casé (1928-2008), um dos pioneiros da televisão, na década de 1970. Já o Esquenta foi o programa que ela apresentou durante seis anos (2011 a 2017) na Rede Globo, com foco no público da periferia e repleto de gêneros populares, entre eles o funk carioca. Mas a sua identidade com os menos favorecidos começou ainda antes, com programa como Brasil Legal (1994) e Central da Periferia (2006).
A conversa com mães, ao longo desses anos, e a experiência própria – Regina é a ‘Lurdes’ de Benedita Casé, Roque Casé Ciavatta e avó de Brás Casé Zerbini Januário. “A Lurdes é uma colcha de retalhos de centenas de mulheres que conheci nesses anos todos viajando pelo Brasil mais profundo, tenho muita intimidade com essas mães. Conheço muito essas pessoas, estive dentro da casa delas em cada canto do Brasil: no Sul, no Norte, no Nordeste, no Sudeste. Não li sobre isso, eu vivi isso durante muitos anos.” E ainda assim, acrescenta, a personagem tem lhe agregado muito. “O maior ensinamento da Lurdes é ver como uma mulher que tem uma vida tão dura, sofrida, que não tem um minuto de sossego, consegue manter o bom humor, a alegria, a família unida. Ela consegue dar risada, não espera ficar tudo bem em sua vida para ser feliz.”
Lurdes está na saga de encontrar o filho vendido pelo seu ex-marido ainda pequeno, o Domênico. Foi ele o responsável por que ela viesse para São Paulo. Depois de encontrar Sandro (Humberto Carrão) e achar que ele seria seu rebento, decepcionou-se, mas não desistiu. Ainda que apareçam especulações sobre o paradeiro do rapaz, a atriz não pode adiantar. “Tudo nessa novela é segredo. Juro que não sei nem quem é meu filho...”, brinca.
A sua única certeza é que o amor de mãe, assim como diz o nome da novela, é o maior que existe. “Sou uma mãe tão apaixonada que brinco que às vezes passo o limite da Lurdes e quase chego na Thelma (risos).” Ela diz isso porque a personagem de Adriana Esteves não mede esforços para ter Danilo por perto, ainda que ele seja um rapaz independente. “Acho que tem o limite da sanidade. Há mães que ultrapassam esse limite e acabam cometendo loucuras. Mas toda mãe trabalha muito nesse limite.”
A atriz revela que nunca achou que teria filhos. Em seu segundo casamento, com o artista plástico Luiz Zerbini, teve aborto espontâneo e, após fertilização, conseguiu engravidar de Benedita. “A partir do momento que nasceu minha primeira filha, vi que eu levava jeito”, lembra. Quando se casou com o diretor artístico Estêvão Ciavatta, em 1998, a vontade de ser mãe retornou, mas ela não conseguiu engravidar. Os dois entraram na fila de adoção e então veio Roque, o caçula da família. Caçula até a chegada de Braz, o neto, é claro.
“Não acho que ser avó é ser mãe só duas vezes, não. Quando você vira avó, você percebe mil facetas: a maneira como você passa a ver sua filha como mãe, a maneira como você revisa a mãe que foi para ela. Como eu tenho um filho muito pequeno, quase da idade do meu neto, isso está muito misturado. Tenho aprendido demais e acho que foi uma bênção ter sido avó tendo um filho pequeno, porque os dois já viraram irmãos”, analisa Regina. É a ele e aos rebentos que direciona seus desejos futuros. ”Meu maior sonho é parecido com o da Lurdes: ver meus filhos fortes, crescidos e criados com saúde e felizes.”
Ela também vislumbra continuar na televisão. “Pelas redes sociais e pelo reconhecimento do público nas ruas, que tem sido muito lindo e que sou muito grata, sou cobrada do tempo que fiquei como apresentadora e deixei de lado a atuação. As pessoas falam que eu deveria passar mais tempo me dedicando à carreira de atriz. Meu coração está dizendo que a Lurdes é apenas o começo de uma fase onde vou ser mais atriz que apresentadora. Mas a gente nunca sabe o dia de amanhã.” Que venham mais Lurdes.
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