Na esteira do tempo

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Miriam Gimenes

É difícil não cair na lábia de Rubinho. Bibi que nos diga. Depois de deixar o noivo Caio, que conheceu na faculdade de direito – ambos estavam no curso –, se rendeu aos encantos do rapaz, que virou pai do seu filho. Com os anos, ele não conseguiu retomar a faculdade de química, não se esforçou para conseguir um emprego bom e resolveu seguir uma outra profissão: traficante de drogas. O intérprete do personagem controverso é o ator Emilio Dantas, 37 anos, um dos protagonistas da novela das 21h, da Rede Globo, A Força do Querer. 
 
 
Não foi apenas a mulher, feita por Juliana Paes, que caiu na sua conversa. O público também. À época da exibição da novela, em 2017, Rubinho despertou diversos sentimentos, que têm se repetido agora, com a reprise. Tanto que Emilio não se arrepende da forma como o construiu. “Confesso que não faria nada diferente no Rubinho. A saga dele sempre foi aquilo, um vilão dentro dos padrões que a gente reconhece hoje em dia, mas com um salto a mais”, define. Segundo o ator, o personagem teve oportunidades, falava inglês, cursou faculdade, tinha saúde, mas não soube aproveitá-las. “(A história dele) É mais uma fábula sobre a ambição e as cegueiras que nascem por causa dela”, acrescenta. 
 
O ator o define como um trabalho importante da sua carreira, inclusive pelo time que contracenou. “A repercussão ficava com a Bibi, o Rubinho era a escada. Ele dava o brilho pra Bibi fazer o jogo dela acontecer. O jogo dela que era do movimento. Também essa picuinha com o Sabiá (Jonathan Azevedo). Acho que foi uma repercussão bem louca. As pessoas gostavam desse bandido. Acho que agora vai ser um pouco diferente, acho que as consciências mudaram, apesar do pouco tempo, mas mudaram um pouco. Então, vamos ver... Eu já não simpatizo tanto com o Rubinho, por exemplo.” 
 
Emilio também esteve há pouco no ar na série Amor e Sorte, da mesma emissora, dividindo cena com sua mulher na vida real, Fabiula Nascimento. Na história, o seu personagem, Francisco, decide se separar de Clara (Fabiula), só que, no dia seguinte, é decretada a quarentena pelo novo coronavírus. Eles têm de aprender, portanto, a conviver por dias na mesma casa.
 
“Essa foi uma das melhores doideras que aconteceram com a gente na quarentena. Porque um trabalho como este te consome tanto,  tivemos de fazer tudo que é feito em um set, cuidar da luz, microfone, som, do cartão que tem de logar, serviços que a gente nem conheceu e que a galera da equipe que faz. Tudo isso  me ajudou muito para estudar coisas da atuação que não passavam na minha cabeça”, lembra Emilio.  
 
Segundo o ator, a série – que contou com outros três episódios, com outro elenco –, em meio ao caos, ‘comprou o barulho da leveza’ e propôs uma reflexão necessária. “Fez talvez a gente começar entender as inter-relações dentro da casa. Aproveitando o mote da doença, as pessoas viram que têm de se relacionar melhor, dizer o que espera do outro. Foram abordados o entendimento entre mãe e filha, o que os casais sonham para frente, assuntos que têm a ver com essa conexão do que a gente espera do mundo daqui para frente”, analisa. 
 
Ele espera, acrescenta, que com tudo isso que se passou as pessoas possam se entender melhor, se escutem, necessidade mostrada pelo seu personagem. “Espero que a gente seja guiado um pouco menos pela razão, material volátil hoje em dia, e pensar mais com o coração mesmo, ter calma, respirar e entender para que estamos correndo tanto. A gente trabalha para sobreviver, depois que se safa desse problema a gente precisa trabalhar para ter tempo, algo de grande valor na vida e que você não pode comprar. E quando você tem esse tempo, como foi nesta pandemia,  não sabe o que fazer, vê que jogou sua energia em lugar errado”, acredita.  
 
É por isso que ele aproveitou e continua a fazê-lo ao máximo. Usou o isolamento para pintar  – alguns quadros seus e de Fabiula foram mostrados na série, gravada na casa deles – e estudou bastante teoria musical. “Também fui atrás de coisas que deixei passar, como conversar com meus pais, com meus irmãos, entender quem é minha família, quais são os sonhos, as escolhas do passado. Entendê-los como seres humanos. Além disso, os conceitos de família, como,  quem é esse cara que me educou? A minha geração, que cresceu na década de 1990, conversou muito com a TV e pouco com os pais. Estou correndo um pouco atrás disso”, confessa.
 
ARTISTA
 
Emilio diz que sempre teve vontade de trabalhar com artes. Chegou a desenhar, mas se encantou com a música.  Fez parte de duas bandas, a Mulher do Padre e Som de Rua, depois participou de musicais – interpretou Cazuza no musical Pro Dia Nascer Feliz, com o qual ganhou o prêmio Bibi Ferreira. 
 
Estreou na TV na Rede Record, onde, em 2013, se destacou com o personagem Benito, em Dona Xepa. A atuação começou a chamar a atenção da emissora concorrente, pela qual foi contratado em 2015 para fazer a novela Além do Tempo. Depois vieram A Força do Querer e Segundo Sol, que deu vida ao cantor Beto Falcão.   
Há pouco começou a gravar a série Fim, baseada no livro de Fernanda Torres, mas teve de parar o trabalho em razão da pandemia. A volta está nos seus planos. “Agora quero acabar minha obra aqui em casa, para a gente ficar em paz (risos), e retomar o projeto que a gente tinha de gravar a série. A previsão é de voltarmos em abril”, adianta. A data de estreia ainda não foi definida. 
 
O profissional vê com otimismo as opções que têm aparecido no meio artístico em meio à pandemia. “A gente está lidando com as adversidades e dentro delas tudo que funcionar, todo alívio que a gente encontra é uma nova forma de fazer arte. As peças de teatro têm tido mais ingressos vendidos do que as presenciais, por exemplo. Vejo muitas saídas funcionando, mas ainda assim são saídas. O meu otimismo tende a pensar que essas formas criativas podem se  transformar em possibilidades. Não acho justo que isso seja feito com essa pressão de ter de acontecer logo. Lá na frente vamos descobrir novos movimentos nas redes sociais, novas formas de se fazer o artístico e isso é muito bom.”
Qual é seu maior sonho hoje? “Que acabe muita coisa. Pandemia, tudo. Que a gente possa lidar com questões que nos levem para frente”, finaliza.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 




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