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Alessandra Nunes
Com o aumento da ansiedade por causa do confinamento e próximo de datas especiais como a Páscoa, é bem comum um aumento na ingestão de doces, principalmente do tão famoso chocolate.
Os doces fazem parte da rotina e da cultura de nosso povo, e de fato estão inclusos como parte de uma alimentação balanceada, porém, é necessário se atentar aos excessos, que muitas vezes ocorrem sem que a pessoa perceba.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a ingestão média diária de açúcar é de 80 g, mais que três vezes o recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é, em média, 25 g por dia. Nesse padrão, é possível que mal se perceba a ingestão excessiva, visto que o consumo “normal” já é maior do que o considerado saudável.
Cientificamente, a sensação de bem-estar imediata após o consumo de doces tem explicação no neurotransmissor serotonina. O chocolate, nosso maior exemplo, é rico em triptofano, um aminoácido essencial para a formação de serotonina.
A deficiência de nutrientes e desordens metabólicas, assim como fatores emocionais também podem acarretar na vontade exacerbada de açúcar, então, é importante manter atenção na alimentação e perceber quais são as motivações que levam a essa descompensação.
Em combinação com outros hábitos não saudáveis, muitas doenças e desordens no organismo podem surgir do consumo exagerado de açúcares e doces, como obesidade, diabete tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Essas patologias vêm crescendo constantemente nos últimos anos e, além do impacto na saúde, elevam o risco de morte precoce.
Neste contexto, recursos que auxiliam a perceber o quanto se ingere e a reduzir o consumo de açúcar podem ser úteis para manter uma alimentação saudável, e prevenir doenças associadas.
Técnicas como ‘comer com atenção plena’ (mindful eating) e comer intuitivo são interessantes para desenvolver a percepção dos efeitos da comida nos sentidos, nas sensações físicas e emocionais durante e após a alimentação, para que aos poucos seja possível se alimentar de forma consciente, de acordo com os sinais fisiológicos da fome e saciedade, e com atenção a quando e ao quanto se come.
Outro recurso que pode contribuir para a diminuição do consumo de doces é a dessensibilização do paladar. Se existe um padrão de preferência por preparações açucaradas, é provável que desde a infância a pessoa seja acostumada a este sabor.
As regiões da língua detectam os sabores em locais diferentes e cada sabor ativa uma área do cérebro, gerando sensações diversas. Sabores mais suaves como o doce causam sensações agradáveis, já amargo, azedo e adstringente causam certo repelimento, pois essa percepção é o que nos ajuda a não ingerir venenos ou alimentos estragados, por exemplo.
Por isso é necessário este processo de ‘destreinar’ o paladar, que pode ser feito reduzindo gradualmente a quantidade de açúcar e adoçante em alimentos e bebidas adoçados, para que o cérebro vá se adaptando aos sabores naturais. E aumentando progressivamente a inserção de frutas cítricas e vegetais amargos no cardápio, para que o paladar receba e vá se adaptando a outros estímulos junto ao doce. Na prática funciona assim: deu vontade de doce, corre comer uma coisa azeda ou amarga!
Os recursos para melhorar o relacionamento com a comida e diversificar a alimentação são benéficos e sempre bem-vindos, porém, é importante investigar as causas que levam ao consumo alimentar desequilibrado, para que, assim, seja possível aplicar um tratamento individualizado para cada caso.
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