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Aline Melo
O Brasil se escandalizou com as imagens da agressão violenta e covarde que o DJ Ivis, até então quase um ilustre desconhecido, cometeu contra sua companheira e mãe de sua filha, Pamella Holanda. Tão chocante quanto a violência em si, foi o fato de que outras pessoas presenciaram as agressões e não fizeram nada. Em briga de marido e mulher a gente mete a colher, sim. Mete a colher e salva a mulher.
O caso teve grande repercussão, mas está longe de ser isolado. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil ocupa o quinto lugar no mundo entre os 83 países com mais casos de homicídios de mulheres, abaixo apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Ivis está preso, Pamella está viva, mas não podemos esquecer que o feminicídio é o topo de uma pirâmide de violência que, antes de ser física, pode ser emocional, psicológica ou patrimonial.
Chama atenção também o fato de que, logo que as imagens foram divulgadas, DJ Ivis ganhou 100 mil novos seguidores em uma rede social. Em uma época como a nossa, em que os chamados influencers exercem tamanha importância, era de se esperar que ocorresse o contrário: que ele deixasse de ser seguido, desconsiderado como referência.
A violência contra a mulher é um problema complexo e de difícil solução. Passa por uma educação menos sexista, pela valorização da mulher enquanto ser humano, pela construção de uma masculinidade que seja menos tóxica e violenta.
Por falar sobre a romantização de relacionamentos abusivos, quando ciúmes e posse são justificados como zelo e cuidado, na verdade são apenas o sentimento de propriedade sobre o outro.
Passa pela não normatização de comportamentos agressivos no trato com o outro. Passa por famílias entenderem que a violência que se pratica em casa, com os filhos, pode repercutir ao longo da vida. Uma criança que cresceu em um lar violento, vendo a mãe ser agredida pelo pai, pode achar que isso faz parte do relacionamento. Pode reproduzir e se sujeitar a isso na sua vida adulta, em seus relacionamentos.
Se queremos uma sociedade menos violenta, se queremos sair desse ranking vergonhoso de quinto País com maior número de homicídios de mulheres, precisamos atuar juntos. E logo. Não há mais tempo a perder.
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