Compartilhe:
Francisco Lacerda
Redução torna País líder mundial entre os que mais perderam ricos
A pandemia do coronavírus des-truiu sonhos, adiou outros, interrompeu projetos, causou prejuízos e, mais do que isso, pôs por terra a economia mundo afora, atingindo indistintamente todas as classes sociais, evidentemente que mais ferrozmente os estratos menos favorecidos. E a camada mais abastada também não escapou, com impacto bastante significativo.
Nesse contexto, e não diferente da realidade mundial, o Brasil perdeu 81 mil milionários em 2020 devido à pandemia, caindo de 375 mil endinheirados para 294 mil. É o que revela a pesquisa Global Wealth Report 2021, divulgada pelo portal CupomValido. com.br, que reuniu dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o banco privado Credit Suisse sobre a distribuição de fortunas.
Esses números fazem de nossa Nação a primeira em ranking de diminuição de riqueza no planeta. O México vem em segundo, com perda de 17 mil opulentos, seguido por África do Sul, com 12 mil. Do outro lado, os Estados Unidos despontam na liderança oposta, já que amealharam 2,25 milhões de mais ricos, seguidos, respectivamente, por China (1,8 milhão) e Suíça (246 mil). A pesquisa ainda mostra existência de 56,1 milhões de ‘milionários’ na face da Terra. Pelos critérios do levantamento, são dessa classe social indivíduos com riqueza (patrimônio) superior a US$ 1 milhão (ou R$ 5,26 milhões na cota-ção de quando esta reportagem foi produzida). Desse total, 207 mil dos sortudos estão entre nós. No levantamento não há recorte regional.
MOTIVOS
O motivo da diminuição desse estrato no Brasil tem como principal fator a desvalorização do real frente ao dólar. Ainda de acordo com o levantamento, a divisa nacional está entre as oito mais depreciadas do mundo entre as 33 mais negociadas. Só em 2020 nosso dinheiro caiu quase 40% perante o norte-americano, ficando atrás inclusive do de outras nações em crises consideradas mais agudas, como, por exemplo, o peso (Argentina) e a lira turca (Turquia).
Na pirâmide de riqueza no Brasil, como mostra a pesquisa, a desigualdade entre classes sociais apresenta 70% da população com patrimônio menor ou igual a R$ 50 mil. Outros 26% detêm bens entre R$ 51 mil e R$ 500 mil. Já os que possuem valores acima de R$ 500 mil até R$ 5 milhões somam 3%. Apenas 1% dos brasileiros tem acima de R$ 5 milhões. Em 2019, conforme mostra relatório publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas), 1% da população mais rica do Brasil detinha 28,3% da renda do País, quase um terço do total.
Para o professor Jefferson José da Conceição, coordenador do Observa-tório de Políticas Públicas, Empreen-dedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), se ampliar a faixa e tomar os 10% mais ricos, a participação na renda destes milionários sobe para 41,9% do total – quase a metade da renda no Brasil!
Pelo mundo, Estados Unidos têm 40% dos mais ricos do globo terrestre, seguidos por China (11%), Japão (6%), Reino Unido (5%), França e Alemanha (4%), e Canadá, Austrália e Itália, todos com 3%. O restante divide o que sobrou, ou seja, os outros 21%.
NO GRANDE ABC
Segundo o professor Jefferson, o número de milionários no Grande ABC é tema “bastante controverso e polêmico, porque o Brasil apresenta uma das piores desigualdades de renda e riqueza do mundo e isso foi exposto com clareza ainda maior durante esta pandemia do coronavírus”. Assim, expõe as estimativas – sujeitas a variações e ajustes – quanto ao índice de endinheirados nas sete cidades. “Se o Brasil como um todo possui população de 211,8 milhões de pessoas (estimativa IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2020) e 207 mil milionários; então, mantendo-se a mesma proporção, o Grande ABC, com população de 2.807.712 (IBGE 2020), possuiria 2.744 pessoas milionárias.”
As desigualdades tornam-se mais latentes quando comparados os números com o IMP (Índice Multi-dimensional de Pobreza), estudo publicado em julho de 2019 pela ONU, que mostra haver, entre 101 países analisados, aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas consideradas “multidimensionalmente pobres”. “Entre 67 milhões e 68 milhões de brasileiros tiveram que receber o auxílio emergencial fornecido pelo governo”, finaliza o professor da USCS.
CONTRAMÃO
Na contramão dessa queda no acúmulo de riqueza, Josy Mota, empreendedora de Mauá, comemora novos ‘ganhos’. No início da pandemia teve de fechar salões de beleza no shopping da cidade e outros negócios da família, o que fez com que alguns profissionais migrassem a outras áreas. E mesmo fechados, contas e aluguéis dos espaços não cessaram. Passou a fazer entregas em domicílio, promoções e ofertas, “coisas que odeio”, diz. “A maior dificuldade foi perder número considerável de clientes, de 60% a 70%. Nossa clientela geralmente é a partir dos 40 anos, que tem condições de gastar semanalmente, mas que não frequentava mais o salão por causa de o shopping ser local fechado.”
Retomou parcialmente o atendimento conforme o governo flexibilizava restrições impostas pela pandemia. Se reinventou e buscou algo que tivesse boa demanda, o coworking, com a locação de cadeiras, na própria cidade, mas de olho em outros municípios. No mesmo espaço haverá restaurante e conjunto de outros comércios, “para que o público gire em torno deles”. Ela não para. Além de ser “bem agressiva no marketing”, agora vai ensinar a outras pessoas o ofício em curso a distância. A mentoria, explica, não é cobrada, mas o curso sim, “porque é projeto caro, mas totalmente acessível”. “Vamos ensinar mesmo aquele que não sabe o que é empreendedorismo, mas quer muito empreender. Desde o início, quebrar medos, as crenças limitantes, que limitam a pessoas de ter sucesso, preparar a mente. É quase uma universidade. Nós vamos fazer empreendedores.”
Como se nota, ela não só se manteve entre os mais bem-sucedidos como não esmoreceu, não parou e, como consequência, cresceu. O sucesso atribui não à busca por dinheiro, mas ao seu propósito, que é “fazer com que várias pessoas sejam, sim, muito bem-sucedidas”. “Acredito que só por isso já me sinto pessoa de muito sucesso. Tenho certeza que terei ainda mais sucesso com tudo isso que está acontecendo. Fico muito feliz.”
Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados